key: cord-0946405-ifuqxt6t authors: Martins, Wolney de Andrade; de Oliveira, Gláucia Maria Moraes; Brandão, Andréa Araujo; Mourilhe-Rocha, Ricardo; Mesquita, Evandro Tinoco; Saraiva, José Francisco Kerr; Bacal, Fernando; Lopes, Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga title: Vacinação do Cardiopata contra COVID-19: As Razões da Prioridade date: 2021-02-19 journal: Arquivos brasileiros de cardiologia DOI: 10.36660/abc.20210012 sha: ff63f20b68072c36bdac363eb535eb9e4d95610c doc_id: 946405 cord_uid: ifuqxt6t nan A vacinação contra influenza é a experiência exitosa baseada em evidências mais próxima da atual situação pandêmica pela COVID-19. Apesar de a vacinação contra influenza ser recomendada pelas principais diretrizes em cardiologia, a cobertura vacinal é baixa e aumentou pouco na última década. 5 A vacinação depende, em muito, da recomendação do cardiologista, que é, sobretudo, "o clínico" do cardiopata, ouvido em diversas situações. O conhecimento e consequente convencimento sobre a necessidade da vacina é determinante para sua difusão. A vacina da influenza é o exemplo inequívoco: achase disponível, é de fácil acesso em campanhas, mas sua cobertura não ultrapassa 25% dos pacientes com insuficiência cardíaca (IC). 5, 6 A necessidade da vacinação contra influenza em cardiopatas foi determinada primeiramente pelos relatos históricos de aumento de mortalidade nas epidemias e, posteriormente, por estudos epidemiológicos. 5 O Quadro 1 apresenta evidências que embasaram tais recomendações. [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] [15] Hoje, sabe-se que a vacinação é medida eficaz na prevenção secundária, pois reduz internações hospitalares por IC, AVC e SCA, além de reduzir mortalidade geral de modo mais expressivo que muitos medicamentos ou intervenções. 5, 6 As infecções e a síndrome inflamatória sistêmica A influenza predispõe a pneumonia bacteriana secundária e, dessa forma, descompensa o paciente com IC. Sim, é fato. Entretanto, deve-se ressaltar que a síndrome inflamatória sistêmica secundária à influenza leva a alteração dos fatores de coagulação, hiperagregabilidade plaquetária, além de aumento das proteínas de fase inflamatória, das citocinas e do fator de necrose tumoral. Consequentemente, tem-se incremento dos fenômenos trombóticos e depósito de fibrina, hipocontratilidade do cardiomiócito, inflamação e aceleração da aterogênese e do remodelamento (Figura 1). Assim, explicase facilmente o porquê da redução de SCA e AVC nos pacientes vacinados em relação aos controles nos ensaios clínicos e observações epidemiológicas. 5, 16 A COVID-19 trouxe à tona a discussão dos mesmos mecanismos e manifestações já muito bem estudados na influenza. É inegável que a resposta inflamatória apresentada na COVID-19 seja mais exuberante e grave, associada ao risco de trombose. Portanto, conhecemos as peculiaridades da imunização nesse subgrupo de indivíduos e somos capazes de recomendar providências eficientes para ampliar as chances de sucesso do programa de imunização contra a COVID-19. Desde as primeiras séries publicadas a partir da China e da Itália, a gravidade da COVID-19 sobressaiu nos portadores das doenças crônicas não transmissíveis, muito provavelmente tomados em comum pela inflamação sistêmica crônica. 17 Descontadas as confusões suscitadas por interpretações inadequadas de estudos ecológicos, o conceito de grupo de risco manteve-se nas publicações subsequentes. Na verdade, fato já conhecido desde os estudos da influenza. O paciente com IC é um indubitável exemplo de grupo prioritário e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) já se manifestou a respeito. 18 Recentemente, a SBC foi convidada pelo Ministério da Saúde para integrar a Câmara Técnica e revisar o Programa Nacional de Imunização contra a COVID-19 e apontou sugestões relativas à vacinação em enfermos acometidos por todas as DCV, definindo e especificando grupos prioritários para a vacinação (Quadro 2). Ainda há poucas vacinas testadas em estudos fase 2 ou 3. No entanto, os resultados são muito positivos e impactantes, tanto em segurança quanto em eficácia. Merece destaque que as vacinas apoiadas pela Pfizer, 19 Moderna 20 É necessário enfatizar que o Brasil tem uma das mais avançadas legislações sanitárias do mundo. A Constituição Federal consagra o acesso à saúde como direito fundamental: "A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas ...". Assim, políticas públicas de saúde seguras, eficazes, efetivas e custo-efetivas fazem parte do mínimo existencial de cada brasileiro, devendo ser ofertadas de maneira universal, integral e gratuita. Enquadram-se nesse contexto as campanhas de vacinação, verdadeiro patrimônio consolidado dos brasileiros e orgulho nacional. À vista disso, criar todas as condições para ofertar vacinas em um amplo programa de imunização contra a COVID-19 é "direito de todos e dever do Estado", sob pena do dever constitucional converter-se em promessa inconsequente, frustrando as justas expectativas depositadas no Estado brasileiro. Resumimos as dez razões para indicar a vacina ao seu paciente na Figura 2. É nosso ponto de vista, baseado na melhor Apesar do elevado custo em vidas perdidas, a busca por solução eficiente para a pandemia, trouxe-nos rápido avanço nas pesquisas, alicerçado em ciência de boa qualidade, deixando um notável legado e conquistas. No curso de um ano, descreveram-se o quadro clínico, o perfil epidemiológico e o agente etiológico em nível molecular, aprimoraram-se cuidados, refutaram-se tratamentos empíricos e fúteis e produziram-se vacinas testadas em ensaios clínicos. É a ciência em sua fascinante evolução por eficácia em prol da qualidade e quantidade de vida. Mas, a grande lição tem sido a necessidade do fortalecimento do sistema de saúde, o nosso SUS. A defesa intransigente do SUS, em síntese, é a defesa da dignidade da pessoa humana, compromisso fundamental do Estado brasileiro. A SBC e as demais sociedades científicas devem se aliar na luta pelo progresso e difusão da ciência e pela consecução de políticas públicas capazes de melhorar a vida de cada um dos mais de 220 milhões de brasileiros. Os princípios que nortearam a criação da SBC em 1943, no meio da Segunda Guerra Mundial, são os mesmos que nos motivam nesta crise sanitária sem precedentes. New IHME Projection Sees COVID-19 Deaths in Brazil at More than 125,000 Excess of cardiovascular deaths during the COVID-19 pandemic in Brazilian capital cities A guide to vaccinology: from basic principles to new developments Vacinação no cardiopata Influenza and pneumococcal vaccination in heart failure: a little applied recommendation Influenza vaccination and reduction in hospitalizations for cardiac disease and stroke among the elderly Excess hospital admissions for pneumonia, chronic obstructive pulmonary disease, and heart failure during influenza seasons in Hong Kong Comparing estimates of influenza-associated hospitalization and death among adults with congestive heart failure based on how influenza season is defined Seasonal variation in hospitalizations due to heart failure in Niterói city, Southeastern Brazil The cardiovascular manifestations of influenza:a systematic review Association between process quality measures for heart failure and mortality among US veterans Vacina contra influenza para prevenção de doença cardiovascular Effects of annual influenza vaccination on mortality in patients with heart failure Influenza vaccination reduces hospitalization for heart failure in elderly patients with chronic kidney disease:a populationbased cohort study Can vaccinations improve heart failure outcomes? Clinical characteristics of 138 hospitalized patients with 2019 novel coronavirus-infected pneumonia in Wuhan A IC e a vacina no contexto da sindemia coronavírus 2020-21 Safety and efficacy of the BNT162b2 mRNA Covid-19 vaccine Efficacy and safety of the mRNA-1273 SARS-CoV-2 vaccine Safety and efficacy of the ChAdOx1 nCoV-19 vaccine (AZD1222) against SARS-CoV-2: an interim analysis of four randomised controlled trials in Brazil, South Africa, and the UK. Lancet. 2020 CoronaVac: Butantan afirma que vacina evitou 78% de casos leves e 100% de graves em testes