key: cord-0847215-19v42czz authors: Moreira, Henrique Turin; Volpe, Gustavo Jardim; Rezek, Uebe Chade; de Mendonça, Pedro Cunha; Teixeira, Gustavo Corrêa de Almeida; dos Santos, Bruno Moreira; Olivieri, Anna Paula Gonçalves; Chierice, Ana Julia Abbud; Monteiro, Henrique Zanqueta; de Araújo, Natanael Mendes; Maciel, Benedito Carlos; Pazin, Antonio; Schmidt, André title: Telemedicina em Cardiologia para Seguimento Ambulatorial de Pacientes com Alto Risco Cardiovascular em Reposta à Pandemia de COVID-19 date: 2021-01-27 journal: Arquivos brasileiros de cardiologia DOI: 10.36660/abc.20200715 sha: 08b305c3ac0aac976b11688928c7dc59c11e738f doc_id: 847215 cord_uid: 19v42czz nan Nesse contexto, a telemedicina tem sido utilizada como método para assistência remota e gerenciamento de consultas médicas, permitindo identificação de pacientes com necessidade de retornos clínicos prioritários, bem como orientações e esclarecimentos à distância aos pacientes. 4 O presente estudo avaliou o impacto em curto prazo das medidas de contingência para enfrentamento da pandemia de COVID-19 utilizando-se a telemedicina para seguimento clínico de pacientes de alto risco cardiovascular. Este estudo tranversal avaliou retrospectivamente registros em prontuário médico de teleorientações do serviço de cardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP-USP), realizadas de 4 a 8 de maio de 2020, dos pacientes que não haviam comparecido em consulta agendada no ambulatório de isquemia miocárdica desde o início da pandemia (reconhecida pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020). A teleorientação é uma das modalidades de telemedicina utilizadas no HC-FMRP-USP para enfrentamento da pandemia de COVID-19, em conformidade com o ofício nº 1756/2020 do Conselho Federal de Medicina e com a portaria do Ministério da Saúde nº 467 de 2020. No HC-FMRP-USP, a teleorientação médica segue normas institucionais (portaria HCRP 96/2020), podendo ser realizada via contato telefônico, utilizando-se formulário padronizado, com documentação automática no sistema de prontuário eletrônico. O paciente ou seu responsável é sempre informado sobre os motivos do contato telefônico, e questionado sobre a permissão para o registro de dados. Como rotina, houve pelo menos 2 tentativas de contato para cada paciente, realizadas em dias diferentes da semana. Durante a teleorientação, os médicos questionaram ativamente se nos dois meses anteriores ao contato telefônico houve sintomas sugestivos de COVID-19 e realização de teste diagnóstico, além de aparecimento ou piora de dor ou desconforto torácicos, procura por atendimento médico, hospitalização, tratamento recebido, principal motivo pelo não comparecimento ao retorno e necessidade de receitas médicas. Finalmente, o paciente ou seu responsável foi questionado se considerava o reagendamento da consulta melhor ou pior para a saúde do paciente. O presente estudo incluiu 240 pacientes selecionados conforme o processo apresentado na Figura 1. As informações foram fornecidas pelo próprio paciente em 70% dos casos (n=169), enquanto que em 30% dos casos (n=71) foram fornecidas por seu responsável. A idade média dos pacientes foi de 65±10 anos, 62% homens (n=148) (Tabela 1). Todos os pacientes apresentavam doença arterial coronariana ou isquemia miocárdica, 60% deles com infarto do miocárdio prévio. Sintomas sugestivos de COVID-19 foram reportados por 32 (13%) indivíduos. Coriza e congestão nasal foram os mais frequentes, descritos por 13 pacientes, seguidos por febre (n=10), odinofagia (n=9), piora ou aparecimento de dispneia (n=5) e anosmia (n=2). Não houve hospitalização por COVID-19 ou realização de teste para SARS-CoV-2. Aparecimento ou piora de dor ou desconforto torácico foram relatados por 12 (5%) e 14 (6%) pacientes, respectivamente. Desses 26 pacientes, 13 procuraram atendimento de urgência, sendo que 3 deles foram internados, 1 destes em unidade de terapia intensiva com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio (IAM) tratado com intervenção coronariana percutânea (ICP) em outro serviço (Figura 2). Os outros dois pacientes hospitalizados não foram admitidos em unidade de terapia intensiva; um deles relatou síndrome coronariana aguda e ICP em outro serviço, enquanto o outro referiu não saber o diagnóstico da internação. Houve relato de óbito de uma paciente do sexo feminino, de 80 anos, com fração de ejeção do ventrículo esquerdo reduzida, porém não tivemos acesso ao atestado de óbito. A maioria dos pacientes (80%) não compareceu à consulta, referindo ter seguido recomendações do HC-FMRP-USP, enquanto 13% dos pacientes relatou não comparecimento devido ao medo de contaminação pelo SARS-CoV-2 nas dependências do hospital e 3% dos pacientes não obteve meio de transporte para a consulta, sendo que 4% dos pacientes relatou outros motivos (tabela suplementar). Retornos "prioridade alta", "intermediária" e "baixa" foram agendados para 15%, 22% e 63% dos pacientes, respectivamente (Figura 3). O presente estudo avaliou o impacto em curto prazo de estratégia para seguimento clínico de pacientes de alto risco cardiovascular com o uso de telemedicina em resposta à pandemia de COVID-19. Dentre os principais achados, destaca-se que 11% dos pacientes avaliados apresentou agravamento do quadro cardiovascular nos primeiros meses da pandemia e apenas metade desses procurou atendimento médico por esse motivo. Além disso, uma importante parcela dos pacientes relatou receio em comparecer ao serviço de saúde devido ao potencial risco de contaminação intra-hospitalar pelo SARS-Cov-2. Nesse cenário, a aplicação de teleorientação mostrou-se bastante exequível, de boa aceitação pelos pacientes e bastante útil no planejamento dos retornos clínicos baseados em categorias de prioridade. Desde os primeiros relatos de casos de COVID-19, há relatos de redução do número de atendimentos por condições cardiovasculares agudas graves. 5 Dados de laboratórios de cateterismo dos EUA mostraram redução de 38% no número de ICP para IAM durante a fase inicial da epidemia de COVID-19 no país. 3 Inquérito mais recente envolvendo 141 países indica que em cerca de dois terços deles houve redução maior que 40% do número de admissões hospitalares por IAM nos primeiros meses da pandemia. 6 Dentre as hipóteses levantadas para esses achados, a mais frequentemente apresentada tem sido o medo dos pacientes de se contaminar pelo SARS-Cov-2 nos ambientes hospitalares, como apontado em recente relato de caso no Brasil. 7 No presente estudo, 13% referiram que o principal motivo para o não comparecimento foi o medo de contaminação intra-hospitalar. Este estudo contribui para o avanço do conhecimento no campo da telecardiologia, mostrando elevada exequibilidade do processo, com grande aceitação dos pacientes seguidos na instituição. A ação implementada proporcionou ferramenta eficaz de gerenciamento dos retornos clínicos, marcados como prioritários para 15% dos pacientes contactados, enquanto os outros 85% puderem manter o distanciamento social preconizado durante essa pandemia. Além disso, outras necessidades puderam ser contempladas, como a identificação da necessidade de receitas médicas, levantadas em 8% dos casos. A teleorientação não foi concluída com êxito em 18% dos casos, não sendo possível descartar que a proporção de pacientes que tenha apresentado piora clínica, e até mesmo óbito, seja ainda maior do que a observada. A telemedicina em cardiologia para o enfrentamento da COVID-19 é altamente exequível, bastante eficaz e de grande aceitação pelos pacientes, permitindo triagem de casos prioritários e gerenciamento dos retornos ambulatoriais. O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Não há vinculação deste estudo a programas de pósgraduação. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da FMRP-USP sob o número de protocolo 4.078.545. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. The Heart and COVID-19: What Cardiologists Need to Know Critical Organizational Issues for Cardiologists in the COVID-19 Outbreak: A Frontline Experience From Milan Reduction in ST-Segment Elevation Cardiac Catheterization Laboratory Activations in the United States During COVID-19 Pandemic Virtually Perfect? Telemedicine for Covid-19 Reduced Rate of Hospital Admissions for ACS during Covid-19 Outbreak in Northern Italy Admission of patients with STEMI since the outbreak of the COVID-19 pandemic. A survey by the European Society of Cardiology COVID-19 and Acute Coronary Events -Collateral Damage. A Case Report