key: cord-0814205-f2jznmk9 authors: Costa, Roberto; da Silva, Katia Regina; Saucedo, Sarah Caroline Martins; Silva, Laisa Arruda; Crevelari, Elizabeth Sartori; Nascimento, Wagner Tadeu Jurevicius; Silveira, Thiago Gonçalves; Fiorelli, Alfredo; Martinelli, Martino; Jatene, Fabio Biscegli title: Impacto da Pandemia por COVID-19 nos Procedimentos Cirúrgicos de Dispositivos Cardíacos Eletrônicos Implantáveis em um Centro de Referência Terciário date: 2021-10-06 journal: Arq Bras Cardiol DOI: 10.36660/abc.20201378 sha: 7d0c0939bc6df06241ffd8272fc36a5680d86bc4 doc_id: 814205 cord_uid: f2jznmk9 nan A pandemia da COVID-19 mudou o panorama da prática cirúrgica das diversas especialidades médicas no mundo inteiro. [1] [2] [3] [4] Mudanças nas rotinas dos serviços de estimulação cardíaca artificial foram apoiadas pelas sociedades médicas da especialidade, que estabeleceram recomendações para a definição da gravidade dos casos e da urgência dos procedimentos cirúrgicos. 5, 6 O objetivo do presente estudo foi avaliar o impacto das medidas implementadas para enfrentamento da pandemia nos procedimentos cirúrgicos realizados na área da estimulação cardíaca artificial, pela comparação dos dados obtidos durante o pico da pandemia aos do período imediatamente anterior. Para tanto, avaliamos o número de pacientes atendidos, o perfil clínico dos pacientes, o perfil dos procedimentos e a taxa de diagnósticos comprovados de COVID-19 nessa população. Estudo prospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Plataforma Brasil: 26587419.7.0000.0068). Foram avaliados consecutivamente 557 pacientes submetidos a implante inicial ou reoperação de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI). Dados especificamente relacionados à COVID-19 foram adicionados para análise no estudo. Em 21 de março de 2020, a direção do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HCFMUSP) determinou medidas específicas para o enfrentamento da pandemia: isolamento dos pacientes com COVID-19, adiamento dos procedimentos eletivos e realização apenas de procedimentos urgentes para salvar a vida ou impedir o comprometimento hemodinâmico dos pacientes. Para tanto, os procedimentos foram classificados em urgentes ou eletivos (Tabela 1), de acordo com as recomendações internacionais. 5, 6 Os pacientes estudados foram hospitalizados a partir de atendimento na unidade de emergência do próprio hospital, por referenciamento externo ou pela análise da lista de espera cirúrgica. Os procedimentos cirúrgicos foram realizados segundo a rotina habitual. Todos os pacientes foram seguidos por 30 dias após a alta hospitalar. De acordo com o momento das operações, os pacientes foram agrupados em: Grupo 1 -período anterior à pandemia (1º janeiro a 20/março); Grupo 2 -período do pico da pandemia (21/março a 31/julho). Os dados foram coletados e gerenciados no software REDCap. 7 Foram comparados os procedimentos realizados durante a pandemia com o período anterior por meio de análise univariada, adotando-se o nível de significância de 5%. Para a comparação de médias dos dois períodos empregou-se o teste t de Student e, quando a suposição de normalidade dos dados foi rejeitada, utilizou-se o teste não-paramétrico de Mann-Whitney. Para se testar a homogeneidade entre as proporções foi utilizado o teste qui-quadrado ou exato de Fisher. Entre os 557 pacientes estudados, houve equilíbrio entre os sexos, predominância da raça branca (86,5%) e a média de idade foi 64,5 ± 20,4 anos. Durante a pandemia houve aumento significativo na taxa de pacientes com doença cardíaca estrutural (p=0,016), hipertensão arterial (p=0,047), fibrilação atrial (p=0,047), valvulopatias (p= 0,048) e neoplasias (p= 0,011) (Tabela 2). Durante o pico da pandemia, uma média de 2,3 pacientes foram operados por dia, em comparação a uma média de 3,2 pacientes / dia no período anterior, resultando assim, em redução de 27% no número de pacientes atendidos (Figura 1). Houve modificação no perfil dos procedimentos, com predomínio de reoperações (p=0,070) e aumento da taxa de utilização de dispositivos unicamerais (p=0,007) (Tabela 1). complicações pós-operatórias, readmissões ou mortalidade entre os grupos estudados (Tabela 3). Um total de 15 (2,7%) pacientes tiveram o diagnóstico confirmado de COVID-19. Desses, 2 (0,4%) pacientes haviam sido operados antes da pandemia e permaneciam internados. Dos 13 pacientes operados durante a pandemia, 6 (1,1%) pacientes tiveram o diagnóstico de COVID-19 confirmado durante a hospitalização, e 7 (1,3%) durante os 30 dias que após a alta hospitalar. Morte por qualquer causa foi observada em 18 (3,2%) pacientes, não tendo sido observada diferença significativa entre os grupos (Tabela 3). Dos 15 pacientes que tiveram o diagnóstico de COVID-19, 7 morreram e, em todos eles, essa doença foi considerada a causa primária do óbito. Dentre as demais mortes ocorridas, a causa cardiovascular foi a mais frequente, responsável por 7 (1,3%) óbitos, seguida por infecção não relacionada ao DCEI em 2 (0,4%), complicação cirúrgica em 1 (0,2%) e neoplasia avançada em 1 (0,2%) caso. Este estudo mostrou que as mudanças nas rotinas assistenciais permitiram o atendimento seguro e eficiente dos pacientes com indicação cirúrgica de estimulação cardíaca artificial durante a pandemia da COVID-19. Essas mudanças causaram, entretanto, redução no número de implantes iniciais e na complexidade dos dispositivos utilizados e aumento relativo nas trocas de gerador de pulsos por desgaste de bateria. A despeito do aumento da gravidade dos pacientes atendidos durante a pandemia, o tempo de permanência hospitalar reduziu significativamente, tanto por redução do período pré-operatório quanto do período pós-operatório. Por outro lado, não houve diferenças significativas nos tipos de complicações relacionadas ao DCEI, na necessidade de reintervenções cirúrgicas ou na taxa de readmissões hospitalares nos 30 dias que se seguiram à alta, quando comparados os dois períodos estudados, ou quando comparado ao perfil histórico da instituição. 8 Infelizmente, as medidas adotadas não foram suficientes para evitar a contaminação de pacientes pelo coronavírus, o que ocorreu em 2,7% dos pacientes do estudo. A falta de insumos para a aplicação de testes para detecção da COVID-19 pode ter causado subnotificação, como ocorreu em outras experiências publicadas, 9 assim como a não identificação de indivíduos já infectados no momento da hospitalização. Pelo menos dois pacientes operados anteriormente à pandemia com internação prolongada apresentaram a doença. Dentre os operados durante a pandemia, seis pacientes manifestaram a COVID-19 durante a hospitalização e nos demais, o diagnóstico foi feito nos 30 dias que se seguiram à alta hospitalar, não sendo possível saber com certeza se a doença foi contraída durante a internação ou após a saída do hospital. Embora sem significância estatística, a mortalidade total dos pacientes operados durante a pandemia foi maior em relação ao período anterior, e influenciada pela morte de sete dos 15 pacientes que contraíram a COVID-19 durante o estudo. A alta taxa de comorbidades dos pacientes que contraíram essa doença foi determinante para a evolução desfavorável deste subgrupo. No momento atual, em que recomendações específicas para a retomada das atividades no período pós-pandemia começam a ser discutidas, 10 a experiência ora reportada pode servir como embasamento para as atitudes que deverão ser tomadas numa possível recorrência do pico da pandemia. Os resultados obtidos neste estudo refletem as práticas assistenciais de um centro de referência em estimulação cardíaca artificial, podendo ter sido influenciados pela Cardioversor-desfibrilador implantável ventricular 23 (4,1) 8 (3, 2) 15 (4, 9) Cardioversor-desfibrilador implantável atrioventricular 49 (8, 8) 28 (11,1) 21 (6, 9) Os dados do presente estudo mostram que as modificações assistenciais adotadas para o enfrentamento da pandemia da COVID-19 tiveram impacto no número e no perfil das cirurgias realizadas. Essas mudanças permitiram a realização segura dos procedimentos cirúrgicos durante a pandemia, mas não foram suficientes para evitar a transmissão Concepção e desenho da pesquisa, Análise e interpretação dos dados, Obtenção de financiamento e Redação do manuscrito: Costa R, Silva KR; Obtenção de dados: Saucedo SCM, Silva LA, Crevelari ES, Nascimento WTJ, Silveira TG, Fiorelli A; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Costa R, Silva KR, Saucedo SCM, Silva LA, Crevelari ES, Nascimento WTJ, Silveira TG, Fiorelli A, Martinelli Filho M, Jatene FB. Não há conflito com o presente artigo Não há vinculação deste estudo a programas de pósgraduação. COVID-19 pandemic outbreak: the Brazilian reality from the first case to the collapse of health services On Behalf of the COVID-Evidence and Recommendations Working Group. Coronavirus disease (COVID-19): a scoping review The impact of the COVID-19 pandemic on vascular surgery practice in the United States Global guidance for surgical care during the COVID-19 pandemic Guidance for cardiac electrophysiology during the COVID-19 pandemic from the Heart Rhythm Society COVID-19 Task Force; Electrophysiology Section of the American College of Cardiology; and the Electrocardiography and Arrhythmias Committee of the Council on Clinical Cardiology Recommendations for the organization of electrophysiology and cardiac pacing services during the COVID-19 pandemic: Latin American Heart Rhythm Society (LAHRS) in collaboration with: Colombian College Of Electrophysiology, Argentinian Society of Cardiac Electrophysiology (SADEC), Brazilian Society Of Cardiac Arrhythmias (SOBRAC), Mexican Society Of Cardiac Electrophysiology (SOMEEC) Research Electronic Data Capture (REDCap) -A metadata-driven methodology and workflow process for providing translational research informatics support Complications after Surgical Procedure in Patients with Cardiac Implantable Electronic Devices: Results of a Prospective Registry Mortality Underreporting in Brazil: Analysis of Data From Government Internet Portals Guidance for Rebooting Electrophysiology Through the COVID-19 Pandemic from the Heart Rhythm Society and the American Heart Association Electrocardiography and Arrhythmias Committee of the Council on