key: cord-0695662-gwr4gqvh authors: Schneider, Ana Paula Helfer; Gaedke, Mari Ângela; Koepp, Janine; Reuter, Éboni Marília; Darsie, Camilo; Possuelo, Lia Gonçalves; de Moura Valim, Andréia Rosane; Carneiro, Marcelo; COVID-VRP, Grupo title: Medidas de distanciamento social como fator de proteção contra a COVID-19 no interior do Rio Grande do Sul, Brasil date: 2021-11-19 journal: Rev Panam Salud Publica DOI: 10.26633/rpsp.2021.145 sha: 5a8d8f0f63331ffa7829587537975a5cdd350d7b doc_id: 695662 cord_uid: gwr4gqvh OBJECTIVE. To estimate the SARS-CoV-2 seroprevalence in a non-metropolitan area (Vale do Rio Pardo) in the state of Rio Grande do Sul, Brazil, and determine the association between seroprevalence and adherence to social distancing measures. METHOD. For the present population-based, cross-sectional study, data were collected in four stages from August to October 2020. SARS-CoV-2 seroprevalence was assessed using an IgG/IgM rapid test. Demographic, socioeconomic, clinical, and behavioral data were also collected, with administration of a three-question survey to determine adherence to social distancing measures with a focus on the level of social distancing practiced by participants, their routine activities, and circulation of people in the home. The association between sociodemographic data and social distancing was assessed using the chi-square test for linear trends in proportions, and the association between social distancing and seroprevalence was assessed using Poisson regression (95% confidence interval [95%CI]; P< 0.05). RESULTS. Of 4 252 tested and interviewed participants, 11.8% (95%CI: 10.8; 12.8) did not adhere to social distancing measures. The prevalence of a positive rapid test was 4.7% in participants who did not practice social distancing and 1.9% in participants who adhered to social distancing measures (P< 0.05). The variables male sex, age 20 to 59 years, having completed high school, monthly family income ranging from R$ 3 136.00 to R$ 6 270.00, and living in rural areas were associated with non-adherence to social distancing (P< 0.05). Adherence to all social distancing measures provided protection against SARS-CoV-2 infection (prevalence ratio: 0.37; 95%CI: 0.19; 0.73). CONCLUSIONS. The results indicate a reduction in seroprevalence with the adherence to social distancing measures. Objetivo. Investigar a soroprevalência de SARS-CoV-2 na região do Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil, e analisar a associação entre soroprevalência e adesão por parte da população às medidas de distanciamento social. Método. Este estudo transversal de base populacional compreendeu quatro etapas de coleta domiciliar de dados entre agosto e outubro de 2020. A soroprevalência foi avaliada utilizando teste rápido de anticorpos IgM e IgG. Foram coletados, ainda, dados demográficos, socioeconômicos, clínicos e comportamentais, com aplicação de um questionário de três perguntas sobre adesão a medidas de distanciamento social, com foco no nível de distanciamento social que o entrevistado conseguia praticar, rotina de atividades do entrevistado e circulação de pessoas na casa. A associação entre os dados sociodemográficos e a prática de distanciamento social foi avaliada pelo teste do qui-quadrado para tendência linear e heterogeneidade de proporções, e a associação entre o distanciamento social e a soroprevalência foi avaliada pela regressão de Poisson (intervalo de confiança de 95% [IC95%]; P < 0,05). Resultados. Dos 4 252 indivíduos testados e entrevistados, 11,8% (IC95%: 10,8; 12,8) não aderiram ao distanciamento social. A prevalência de teste rápido reagente foi de 4,7% entre aqueles que não realizaram distanciamento social e de 1,9% entre aqueles que realizaram distanciamento social (P < 0,05). As variáveis sexo masculino, faixa etária de 20 a 59 anos, ensino médio, renda familiar mensal de R$ 3 136,00 a R$ 6 270,00 e morar na zona urbana apresentaram associação com a não adesão ao distanciamento social (P < 0,05). A adesão a todas as medidas de distanciamento social foi fator de proteção contra a infecção de SARS-CoV-2 (razão de prevalência: 0,37; IC95%: 0,19; 0,73). Conclusões. Os resultados indicam uma redução da soroprevalência pelas medidas de distanciamento social. Palavras-chave COVID-19; distanciamento físico; prevenção de doenças; estudos soroepidemiológicos; controle de doenças transmissíveis; Brasil. O presente estudo transversal, de base populacional, mensurou a soroprevalência de SARS-CoV-2 na região do Vale do Rio Pardo (COVID-VRP). A região compreende 14 municípios, com população total estimada em 359 mil habitantes (10) , dos quais 36,9% residem em área rural (11) (12) (13) (14) (figura 1). A pesquisa foi realizada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) com apoio do Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo e das prefeituras e secretarias municipais de saúde. O cálculo do tamanho da amostra para determinar a soroprevalência de SARS-CoV-2 na região foi realizado usando o software Epi Info versão 7 através de amostragem aleatória simples para estimativa de proporções para estudos de base populacional. Foram considerados um nível de confiança de 95%, uma margem de erro de 3 pontos percentuais e um efeito de delineamento igual a 1, totalizando 1 063 indivíduos em cada uma das quatro etapas de coleta de dados realizadas. A amostragem foi distribuída proporcionalmente entre os municípios, de acordo com a população estimada (urbana e rural). As coletas ocorreram nos finais de semana, a fim de garantir uma maior regularidade de indivíduos presentes nas residências. As três primeiras etapas de coleta de dados sorológicos foram executadas em intervalos de 2 semanas, enquanto a quarta e última etapa ocorreu 5 semanas após a anterior, ou seja: a primeira ocorreu em 1º e 2 de agosto e a última, em 3 e 4 de outubro de 2020 (31ª até 41ª semanas epidemiológicas). O intervalo de 2 semanas foi planejado para possibilitar a verificação da circulação viral, enquanto a última etapa respeitou um período maior para averiguar modificações do perfil da soroprevalência. O processo de amostragem foi realizado em múltiplos estágios, incluindo amostragem sistemática dos setores censitários, com sorteio de um quarto dos setores censitários em cada um dos 14 municípios. Para a definição do ponto de partida, foi realizado um sorteio simples dos domicílios a serem abordados em cada setor urbano conforme o tamanho de amostra estipulado. Para os setores censitários rurais, foi sorteado apenas o primeiro domicílio a ser visitado. Os demais domicílios foram selecionados a partir dele, incluindo o próximo domicílio na estrada à direita, considerando ambos os lados da estrada. Os endereços pesquisados em cada setor sorteado foram obtidos a partir do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (12) . Em cada domicílio, uma pessoa foi sorteada e convidada a participar do estudo. A partir da segunda etapa, a amostragem usou os mesmos setores censitários, mas outros domicílios participantes. Esses domicílios foram selecionados de forma sistemática, a partir da regra do pulo de cinco domicílios à direita, contando desde cada domicílio selecionado na rodada anterior, conforme metodologia já utilizada em estudos prévios (15, 16) . Nas situações em que o domicílio sorteado não correspondia a um endereço residencial, quando não havia ninguém em casa no momento da entrevista ou caso a participação no estudo fosse recusada, o domicílio era substituído pelo próximo domicílio à direita. Para os setores censitários da zona rural, em todas as etapas foi sorteado um novo endereço como ponto de partida para as coletas. Desde dezembro de 2019, a síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV-2) tem demandado a mobilização de instituições internacionais, governantes, profissionais de saúde e populações para o controle e enfrentamento da COVID-19. Em março de 2020, com a declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), diversos países passaram oficialmente a adotar o distanciamento social como uma das estratégias prioritárias de controle da doença. O distanciamento social visa a reduzir as interações entre as pessoas em comunidades onde os indivíduos infectados, por não terem sido identificados, não foram isolados (1). Tal estratégia é discutida e prevista para esses casos desde 2003, mas somente foi popularizada e adotada em quase todo o mundo a partir de 2020, muitas vezes de forma compulsória, por meio de leis elaboradas em diferentes níveis administrativos (2) . O princípio que embasa o distanciamento social se origina nas dinâmicas espaciais que interligam diferentes lugares, desde a escala global até a escala local, considerando a polirritmia das ações sociais (3). Entende-se que os movimentos e encontros entre humanos, animais e diversos produtos, a partir dos diferentes ritmos e velocidades do mundo contemporâneo, aceleram a disseminação de doenças em um mundo interligado. Refletindo o seu porte continental, o Brasil foi palco de epidemias de COVID-19 diversas, com cidades, estados e regiões apresentando características variadas (4) (5) (6) . Por exemplo, os resultados do inquérito nacional realizado no primeiro semestre de 2020 demonstraram que, na região Norte, em média, até 25% da população de cidades já haviam contraído a COVID-19; enquanto isso, no Sul, esse percentual se manteve em torno de até 1% (6) . Nesse cenário diverso, o distanciamento social, com alteração de diversas práticas, condicionamento das pessoas às suas casas, fechamento de locais e cancelamento de atividades que geram aglomerações (4), trouxe prejuízos ao setor econômico, sendo alvo de críticas e questionamentos por parte da sociedade civil quanto à sua implementação verticalizada pelos governos, que não levaram em consideração as diferenças regionais. No entanto, diante da escassez de testagem em massa e da lentidão no processamento dos testes de transcriptase reversa seguida pela reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), que levaram à indisponibilidade de dados significativos sobre a soroprevalência regionalizada da doença, os gestores de saúde investiram no distanciamento como a principal forma de combate à propagação do vírus (7) . De fato, uma série temporal de óbitos pela COVID-19 no município e estado de São Paulo verificou resultados positivos com a implementação das estratégias de distanciamento (8) . No estado do Rio Grande do Sul, no Sul do Brasil, os poucos dados epidemiológicos disponíveis no início da pandemia indicavam baixa soroprevalência, porém com tendência de aumento, e alta adesão ao distanciamento social (9) Independentemente da presença ou ausência de anticorpos SARS-CoV-2 na amostra, uma faixa vermelho-púrpura aparecerá na área de controle de qualidade C. A presença da faixa vermelho-púrpura na área de controle de qualidade é um critério para avaliar se há amostra suficiente e se o processo Na abordagem ao domicílio sorteado, todos os moradores eram listados, mas apenas um era selecionado, também por sorteio, para ser testado. Em caso de recusa, um segundo morador era sorteado. Diante de uma nova recusa, o domicílio era excluído da amostra e os entrevistadores se direcionavam para o próximo domicílio à direita. Igualmente, caso os residentes estivessem ausentes, o próximo domicílio à direita era selecionado. Todo o procedimento de coleta de dados foi realizado por entrevistadores selecionados entre os profissionais de saúde de nível médio ou superior que atuavam como servidores municipais nas respectivas prefeituras municipais participantes, exceto em um município, onde os entrevistadores foram selecionados entre estudantes dos cursos superiores da área da saúde da UNISC. Cada etapa da coleta contou com a participação de, em média, 110 entrevistadores. Antes de cada etapa, todos recebiam treinamento sobre a realização do teste rápido e as normas de biossegurança, bem como sobre a aplicação do questionário. Foi utilizado um teste rápido da marca Leccurate® (Lepu Medical Technology, China), que consiste em ensaio imunocromatográfico para detecção rápida e qualitativa de A verificação de consistência e a análise dos dados foram realizadas no software STATA 14.0 versão 11. Inicialmente, foi realizada análise estatística descritiva para a caracterização da amostra. Depois, foi realizada análise bivariada por meio do teste do qui-quadrado para heterogeneidade de proporções para variáveis dicotômicas ou nominais e tendência linear para variáveis ordinais. Para avaliar a associação entre os indivíduos que "não realizaram distanciamento social" e o teste reagente para anticorpos SARS-CoV-2, foi realizado o cálculo das razões de prevalência (RP) bruta e ajustada controladas para sexo, idade, escolaridade e renda, com os respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%), utilizando modelos de regressão de Poisson com variância robusta para estimar as RP. A Foram realizadas análises de 4 252 entrevistas e testes rápidos de SARS-CoV-2. As prevalências de teste rápido reagente nas etapas 1, 2, 3 e 4 foram de 2,9%, 2,2%, 3,3% e 3,4% (P = 0,327), respectivamente. A soroprevalência geral de SARS-CoV-2 foi, em média, de 2,9% (IC95%: 2,43; 3,44). As características da amostra estão apresentadas na tabela 1. Houve maior proporção de mulheres ao longo de todas as etapas (61,0%) e predominância de indivíduos adultos na faixa etária de 20 a 59 anos (58,5%). Em relação à escolaridade, metade dos indivíduos possuía ensino fundamental completo (49,9%) e renda familiar mensal de R$ 1 046,00 a R$ 3 135,00 (49,6%). A cor da pele foi autodeclarada como branca por 86,6% dos participantes. Do total de participantes, 39,4% eram moradores da zona rural. A prevalência de indivíduos que não aderiram ao distanciamento social foi de 11,8% (IC95%: 10,83; 12,84) nas quatro etapas. Em todas as etapas, as variáveis sexo masculino, faixa etária de 20 a 59 anos, ensino médio completo e renda familiar mensal de R$ 3 136,00 a R$ 6 270,00 (P < 0,05) foram associados à não realização de distanciamento social. Além disso, nas etapas 3 e 4 houve maior prevalência do desfecho de não adesão ao distanciamento social entre os moradores da zona urbana quando comparados aos da zona rural (P < 0,05) (tabela 2). Na primeira etapa, verificou-se que 24,6% dos participantes não adotavam medidas de distanciamento social, índice que cresceu para 30,2% na última etapa (P < 0,05) (figura 2). Do ponto de vista dos padrões de distanciamento social, a soroprevalência verificada pelo teste rápido reagente diminuiu com o aumento do número de medidas de distanciamento social praticadas (P < 0,001): 4,7% entre aqueles que não cumpriram nenhuma medida de distanciamento social vs. 1,9% entre aqueles que cumpriram todas as medidas de de cromatografia é normal. Conforme informações do fabricante, o teste possui sensibilidade de 77,4% e especificidade de 100% para o IgM. Para o IgG, a sensibilidade é de 96,8%, e a especificidade é de 97,6%. Para a aplicação do questionário de caracterização da amostra, os entrevistadores utilizaram a versão para dispositivo móvel do Epi Info para coletar variáveis demográficas, socioeconômicas, comportamentais, clínicas e referentes ao uso de serviços de saúde e medicamentos. Foram selecionadas, ainda, três variáveis de desfecho que dizem respeito às medidas comportamentais de distanciamento social, baseadas em estudo anterior. As variáveis "nível de distanciamento social que o entrevistado conseguia praticar", "rotina de atividades do entrevistado" e "circulação de pessoas na casa" (4) foram medidas pelas seguintes perguntas, cada uma com cinco opções de resposta: 1) Você tem conseguido seguir as orientações de distanciamento social emitidas pelas autoridades de saúde, ou seja, permanecer em casa e evitar contato com outras pessoas?muito pouco; pouco; mais ou menos; bastante; praticamente isolado. 2) Como tem sido sua rotina de atividades? -fica em casa o tempo todo; sai apenas para coisas essenciais como comprar comida; sai de vez em quando para compras e esticar as pernas; sai todos os dias para alguma atividade; sai todos os dias, o dia todo, para trabalhar ou outra atividade regular. 3) Em relação à rotina domiciliar, quem tem circulado pela casa? -só os familiares que moram junto, se tiver, e mais ninguém; alguns parentes próximos que visitam 1 a 2 vezes na semana; alguns parentes próximos que visitam quase todos os dias; amigos, parentes ou outros que visitam 1 a 2 vezes na semana; amigos, parentes ou outros que visitam quase todos os dias. Em seguida, as três variáveis foram dicotomizadas em "sem distanciamento social" e "com distanciamento social", sendo essa última categoria analisada da seguinte forma: indivíduos que aderiram a uma medida; indivíduos que aderiram a duas medidas; e indivíduos que aderiram a três medidas de distanciamento social. Considerou-se que não realizaram distanciamento social os indivíduos que responderam "pouco/muito pouco" para a questão 1; "saio todos os dias para alguma atividade" e "saio todos os dias, o dia todo, para trabalhar ou outra atividade regular" para a questão 2; e "amigos, parentes ou outros que visitam quase todos os dias" e "alguns parentes próximos que visitam quase todos os dias" para a questão 3. Assim, a variável dependente foi construída, tendo como categoria de referência para análise dos dados os indivíduos que "não realizaram distanciamento social". As variáveis independentes avaliadas foram sexo (feminino, masculino), faixa etária (0 a 19, 20 a 59, acima de 60 anos), renda familiar mensal (até R$ 1 045,00, de R$ 1 046,00 a R$3 135,00, de R$ 3 136,00 a R$6 270,00, mais de R$ 6 271,00), escolaridade (analfabeto/não estudou, educação infantil, ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio incompleto, ensino médio completo, ensino superior incompleto, ensino superior completo, pós-graduação), cor da pele autodeclarada (branca, indígena, preta, amarela, parda) e zona de moradia (urbana, rural). distanciamento social (P < 0,05). Observou-se uma redução de 63% do risco de teste rápido reagente para SARS-CoV-2 entre os indivíduos que aderiram às três medidas de distanciamento social quando comparados àqueles que não realizaram distanciamento social (RP: 0,37; IC95%: 0,19; 0,73, P < 0,05) (tabela 3). Igualmente, a adesão a duas medidas de distanciamento social demonstrou ser um fator de proteção, com redução de 57% no risco de teste rápido reagente (RP: 0,43; IC95%: 0,26; 0,73, P < 0,05). Em contextos como o brasileiro, onde o comportamento da pandemia foi marcadamente diferente em locais distintos, torna-se relevante investigar a pertinência da adesão ao distanciamento social conforme o cenário epidemiológico-sanitário de diferentes regiões e momentos da pandemia, inclusive como forma de obter o apoio da população em relação a essa medida sanitária. O presente estudo evidenciou que a adesão ao distanciamento social foi um fator de proteção contra a disseminação de SARS-CoV-2 em uma região do interior do Rio Grande do Sul. A redução da soroprevalência foi maior entre os indivíduos que aderiram a três medidas de distanciamento social do que entre aqueles que não realizaram distanciamento social. Ou seja, quanto maior a adesão às práticas de distanciamento social, menor a taxa de soroprevalência, denotando um efeito de dose-resposta. O estudo comprovou, ainda, a baixa soroprevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2, conforme ocorria em todo o estado do Rio Grande do Sul no período do estudo (17) e diferentemente de grandes centros do país (18) . Destaca-se que, na zona urbana do presente estudo, os entrevistados apresentaram menor frequência de distanciamento social. Pode-se pensar, portanto, que a relação entre zonas urbanas e rurais seguiu o mesmo padrão da interiorização da disseminação da COVID-19, com o distanciamento entre zona urbana e rural retardando a circulação viral (19, 20) . O inquérito EPICOVID-19-BR (5) demonstrou uma so ro prevalência no Brasil de 2,9% em maio de 2020. Posteriormente, a média cresceu para 4,6% (4 e 7 de junho de 2020), mantendo-se estável na terceira etapa da pesquisa ( 166 (15, 9) 878 (84,1) Superior/ pós-graduação 23 (14, 8) (24) . Entre as intervenções aplicadas em grande escala para controle da COVID-19, estão o isolamento de indivíduos infectados e seus comunicantes, a higiene das mãos, a etiqueta respiratória e o uso de máscaras em ambientes compartilhados. Além disso, uma série de restrições foram adotadas para garantir o cumprimento do distanciamento social -desde fechamento de escolas e universidades, proibição de grandes festas e assembleias, limitação de viagens e do uso de transporte público sem controle ambiental (fiscalização da higiene de superfícies de uso comum, controle de ar e do espaçamento entre as pessoas), aumentando a consciência pública sobre a necessidade de se permanecer em casa, até a introdução de bloqueio total, com direito de sair apenas para necessidades básicas (25) . Em suma, os resultados apresentados sugerem que o distanciamento social observado entre a 31ª e 41ª semana epidemiológica de 2020 colaborou, junto a outras medidas conhecidas, para a manutenção da baixa prevalência de COVID-19 na região do Vale do Rio Pardo (13, 26) . Em relação à idade, os dados seguiram as tendências regionais, visto que 65,52% da população da região é adulta (10, 12) . Crianças, adolescentes (população jovem) e idosos apresentaram maior prevalência de distanciamento social, enquanto os adultos de 20 a 59 anos foram os mais expostos, conforme descrito em outros estudos (4, 27) . As crianças, devido ao fechamento das escolas e à limitação da realização de outras atividades externas (28) , e os idosos, devido à maior mortalidade nessa faixa etária, foram os que mais permaneceram em casa (29) . Essa informação foi relevante no momento da realização do estudo, pois havia consenso na literatura de que os idosos e portadores de comorbidades eram os grupos de maior risco para quadros graves e óbitos (27, 30) . Atualmente, esse perfil modificou-se devido ao surgimento, em fevereiro de 2021, de uma variante genética da SARS-CoV-2 de preocupação no Brasil (P1) (19, 31, 32) . Em relação ao sexo, as mulheres são culturalmente direcionadas às responsabilidades domésticas e ao cuidado de crianças, enquanto aos homens são projetadas as responsabilidades financeiras do lar (33) . No Brasil, a parcela de mulheres responsáveis pelo cuidado da casa é significativamente maior quando comparada à proporção de homens (34) . Os dados do presente estudo parecem ir ao encontro dessa realidade, já que as mulheres apresentaram maior prevalência de distanciamento social (90,7%). Ainda, as mulheres representam 50,67% do total da população da região (12) , porém contabilizaram 61% da amostra da pesquisa, o que sugere uma maior permanência em ambiente domiciliar. No presente estudo, observou-se que quanto menor o grau de escolaridade e de renda familiar (até R$ 1 045,00), maior a adesão ao distanciamento social. A hipótese é que os indivíduos com menor escolaridade foram os mais afetados economicamente, o que implica a ponderação de questões relacionadas à perda do emprego, à redução da jornada de trabalho, à diminuição de serviços informais e ao esgotamento de renda para consumo de itens básicos (4, 35, 36) . O tamanho da amostra no presente estudo permitiu uma representatividade da região do Vale do Rio Pardo, incluindo municípios do interior do estado, com zonas urbanas e rurais. Entretanto, uma das limitações do estudo é o potencial viés de memória, uma vez que as informações de distanciamento social foram baseadas em autorrelato. Além disso, o entrevistado pode ter se sentido constrangido em relatar baixa adesão às práticas de distanciamento social. Nesse sentido, o distanciamento social pode estar superestimado. Outra limitação do estudo refere-se ao fato de a soroprevalência ter sido verificada por meio de teste rápido, que apresenta sensibilidade e especificidade variáveis que dependem do tempo de início dos sintomas. Dessa forma, podem ocorrer resultados falsos negativos em pacientes com baixa carga viral e tempo de doença tardio, enquanto falsos positivos podem ocorrer devido à detecção de IgM relacionada a reação cruzada com outra infecção viral. Tal fato não foi controlado, mas não invalida os resultados, conforme verificado em outro estudo (37) . Em resumo, o presente estudo produziu dados robustos e relevantes acerca da soroprevalência de SARS-CoV-2 em uma população do interior do Rio Grande do Sul, inclusive de zona rural, pouco explorada em outras pesquisas conduzidas na primeira onda de COVID-19. Os dados demonstraram que quanto maior a adesão às medidas de distanciamento social, menor a soroprevalência de SARS-CoV-2. Ressaltamos que a colaboração coletiva da população mediante participação em estudos que entregam resultados em tempo real aos governos locais é capaz de amenizar os impactos negativos em casos de emergência de saúde pública. Declaração. As opiniões expressas no manuscrito são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem necessariamente a opinião ou política da RPSP/PAJPH ou da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Estratégia COVID-19: pesquisa de prevalência. Porto Alegre: Governo do Estado do Rio Grande do Sul Boletim epidemiológico especial -doença pelo coronavírus COVID-19. Brasília: Ministério da Saúde Spatiotemporal pattern of COVID-19 spread in Brazil O fim do ciclo de interiorização, a sincronização da epidemia e as dificuldades de atendimento nos hospitais Processo de interiorização da COVID-19 no Rio Grande do Sul e atração de serviços de saúde de alta complexidade no estado. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas Social distancing measures to control the COVID-19 pandemic: potential impacts and challenges in Brazil Quarantine alone or in combination with other public health measures to control COVID-19: a rapid review COVID-19 in the Northeast of Brazil: from lockdown to the relaxation of social distancing measures Secretaria da Saúde. Decretos estaduais Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study Policy brief: education during COVID-19 and beyond How does age affect personal and social reactions to COVID-19: results from the national Understanding America Study Obesity -a risk factor for increased COVID-19 prevalence, severity and lethality (review) Vigilância genômica do SARS-CoV-2 no Rio Grande do Sul 05. Porto Alegre: Secretaria Estadual da Saúde Epidemiological investigation reveals local Isolation, quarantine, social distancing and community containment: pivotal role for old-style public health measures in the novel coronavirus (2019-nCoV) outbreak International health regulations Thinking the city through SARS: bodies, topologies, politics. Em: Ali SH, Keil R, editores. Networked disease: emerging infections in the global city Social distancing patterns in nine municipalities of Rio Grande do Sul, Brazil: the Epicovid19/RS study Inquérito nacional indica que há várias epidemias de COVID-19 em curso no país. São Paulo: UNIFESP; 2021 SARS-CoV-2 antibody prevalence in Brazil: results from two successive nationwide serological household surveys Social distancing measures in the fight against COVID-19 in Brazil: description and epidemiological analysis by state Social distancing in São Paulo State: demonstrating the reduction in cases using time series analysis of deaths due to COVID-19 Population-based surveys of antibodies against SARS-CoV-2 in Southern Brazil Cidades e estados: Rio Grande do Sul Secretaria do Planejamento Mobilidade e Desenvolvimento Regional, Departamento de Planejamento Governamental Censo demográfico 2010 Mapa de indicadores demográficos da Região do CISVALE. 2020. 4 mapas. Escala 1:10 EPICOVID19 protocol: repeated serological surveys on SARS-CoV-2 antibodies in Brazil Trends in the prevalence of COVID-19 infection in Rio Grande do Sul, Brazil: repeated serological surveys adesão do distanciamento social de trabalhadores na COVID-19 COVID-19 seroprevalence in military police force, Southern Brazil Aceito em versão revisada em 9 de agosto de 2021. transmission of SARS-CoV-2 lineage P.1 in Southern Brazil Acho que homem... não é para ele essa profissão": contrapontos de gênero no trabalho doméstico Women, higher education, labor market and society: an overview COVID-19 pandemic: reflecting vulnerabilities in the light of gender, race and class Fatores associados à vulnerabilidade da não