02_Todas_as_Letras_v18_n3.indd 131 Os diáriOs dO pOeta e artista plásticO Max Martins 131 Paulo Roberto Vieira* Resumo: Poeta e artista plástico, o paraense Max Martins (1926-2009, Belém- -PA) produziu 48 diários entre 1982 e 1999, cadernos que fundem, por meio da colagem, sua criação poética à plástica. Na esteira do conteúdo dos diários, em cópias fac-similadas, identifiquei as linhas de força natureza, amizade e erotis- mo. Este artigo visa dar mostra da arte de Max Martins, no tocante à plástica e à poesia que transfiguram sua vida. Palavras-chave: Max Martins. Diário. Poesia. IntroIto: Max MartIns e seus dIárIos1 ■ O poeta e artista plástico brasileiro Max Martins (1926-2009, Belém-PA) produziu 48 diários entre 1982 e 1999, cadernos que fundem, por meio da colagem, sua criação poética à plástica, configurando um universo de apropriações de imagens verbais e não verbais que se ligam à pa- lavra, na literatura, e aos eventos do cotidiano, nas representações plásticas. Na esteira do conteúdo dos diários, em cópias fac-similadas, identifiquei as li- nhas de força natureza, amizade e erotismo, analisadas à luz das invenções plásticas resultantes da confluência vida, poesia e imagem não verbal. Max Martins escreveu 11 livros, entre 1952 e 2001: O estranho (1952), Anti- -retrato (1960), H’Era (1971), O ovo filosófico (1975), Risco subscrito (1976), A fala entre parêntesis (1982), livro escrito com outro poeta, Age de Carvalho, Ca- minho de Marahu (1983), livro-pôster 60/35 (1986), Marahu poemas (1992) e Colmando a lacuna (2001). Os dois últimos iniciam, respectivamente, os ajunta- mentos da obra até agora, Não para consolar (1992) e Poemas reunidos (2001). * Universidade Federal do Pará (UFPA) – Altamira – PA – Brasil. E-mail: pauloforest@gmail.com LITERATURA PAulO ROBERtO ViEiRA tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 132 LITERATURA Encerra a fatura Para ter onde ir (1992). todavia, a partir de 1982, essa produ- ção amparou-se num gênero por meio do qual lhe era possível refletir e conjugar elementos do cotidiano e da arte. um lugar de guardar o que na vida se coleta, lê, vê, ouve, sente, fala e silencia: o diário. Philippe lejeune (2008, p. 260), ao reafirmar o diário como um “conjunto de registros do cotidiano datados”, põe em cena o caráter fragmentário e contingen- te desse tipo de relato de cunho testemunhal que capta porções, relevantes ou não, do dia a dia daquele que os escreve. No tocante às motivações que levam certos indivíduos a escrever nesses cadernos diariamente durante anos ou dé- cadas, são os próprios diaristas que nos dão a resposta; aqueles que represen- tam uma estranha multidão de vozes, pois o conteúdo que preenche e particu- lariza um diário é o que fundamenta a sua existência. A motivação está na essência do conjunto daquilo que foi redigido ao longo do tempo. O preenchimento das páginas em um diário indica, antes de tudo, que al- guém registra fatos no tempo de maneira peculiar. um diarista trata do mundo que o rodeia a partir de referencial conhecido, mas complexo – a sua própria existência. O resultado desse experimento traz como legado uma produção ex- tremamente rica e heterogênea. Nessa chave, os diários são o abrigo de relatos da vida que servem como fonte da experiência subjetiva e da história, além de manancial de recolhas do cotidiano que, no caso dos artistas, ligam-se ainda aos seus projetos. Assim, a arte plástica de Max nasce do envolvimento do poeta com o gênero confessional. Aferrado à miscelânea criadora que vai do remate dos diários à peleja da invenção poética, o artista produziu centenas de colagens, desenhos e pinturas, mesclados à escrita, nos seus cadernos do cotidiano. Entre outras funções, os diários ofereciam a ele a página amiga, cúmplice, extra, imprescin- dível ao poeta, e ao artista plástico se convertiam em ateliê no qual articulava figuras, objetos, tintas e palavras. Max Martins foi um poeta na Amazônia. Nela nasceu, viveu e morreu. Poeta “na” e não “da” Amazônia, posto que a sua poesia é díspar. Destoa das escritas regionalistas pelo tom e pela atitude perante o mundo e os indivíduos, sem, no entanto, desprezar a região – telúrica, orgânica – como meio de passagem ao universal. Dizendo de outra maneira, Max não escreveu a Amazônia, a Amazônia é que o escreveu. A essa apropriação cuidadosa dos elementos da terra liga-se a ver- ve erótica de sua poesia. Assim, molda-se a tônica do lirismo amoroso visível desde O estranho, livro de estreia em 1952, até Colmando a lacuna, em 2001, biodiversidade em clímax tropical associada a Eros pela trama de palavras e imagens. O poeta começou a escrever diários aos 56 anos. É de 1982 o mais antigo caderno e de 1999 o mais recente. Foram 48 diários produzidos. O artista dei- xou, em seu arquivo, um vultoso conjunto de manuscritos. Compõe-se a cole- ção, além dos diários, de mais de 20 cadernos de estudo e composição poética; de considerável soma de manuscritos avulsos de toda natureza; de vasta corres- pondência; e da marginália em sua biblioteca pessoal, aproximadamente dois mil títulos. O arquivo integral do poeta encontra-se, desde 2011, no acervo da universidade Federal do Pará (uFPA). Este artigo visa dar mostra da arte de Max 133 LITERATURA OS DiáRiOS DO POEtA E ARtiStA PláStiCO MAx MARtiNS tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 Martins, no tocante à plástica e à poesia que transfiguram a vida do escritor nos diários. LInhas de força e entrosaMentos nos dIárIos lejeune (2008) assinala que cada diarista se situa sem dificuldades nas formas de linguagem que lhe servem de “fôrmas” para as entradas e nunca mais as abandona. Cria, assim, uma identidade expressiva no gênero. A liber- dade que a página em branco do diário dá ao seu redator é pouco a pouco captada e se traduz em certas obsessões temáticas reforçadas pela regularida- de das formas. Nessa chave, três linhas de força conduzem os registros nos diários de Max Martins: erotismo, amizade e natureza. A última liga-se ao interesse do poeta pelo taoísmo, zen-budismo e pela poesia oriental – que procurou estudar e in- corporar à vida e à própria criação poética desde a juventude –, mas também ao seu ambiente natural, a floresta amazônica, representada nos diários pela praia de Marahu, onde Max ergueu sua cabana. A segunda linha temática nos cadernos transpõe as relações de amizade fir- madas ao longo da vida. As ligações amicais estimulam o acúmulo intensivo de registros, criando um tom por vezes melancólico, outras vezes alegre, ligado a partidas, chegadas e saudades. A alteridade, nessa chave, atravessa os diários e deles se apossa como espaço do outro. Finalmente, o erotismo representado nesses cadernos conflui à poesia de Max e às leituras dele. Com efeito, essa tría- de, em certa medida, dirige a escolha dos materiais externos coletados pelo dia- rista para as composições plásticas nos cadernos. Assim, natureza, amizade e erotismo formam o substrato da atividade plásti- ca nos cadernos de Max. Os diários tornam-se o ateliê e a galeria de exposições do artista que neles se move. Mas há ainda um movimento inverso – dos diários aos livros de poesia que o poeta publicou depois de se tornar diarista –, pois os temas e as imagens catalisados na criação plástica nos cadernos são atenta- mente avaliados e incorporados na poesia do “mestre-aprendiz” (NuNES, 2009)1. estreLas-guIas e coLagens Nos diários, a colagem é, para Max Martins, o caminho, a solução para fun- dir a criação do poeta à do artista plástico. Deve-se realçar que no universo das apropriações das imagens verbais ou não verbais nos diários, as que se ligam à palavra, na literatura, exprimem num primeiro plano as preferências do poeta. 1 “Max Martins: mestre-aprendiz” foi o título dado pelo crítico e filósofo Benedito Nunes à consagradora análise que realizou sobre o conjunto da obra de Max Martins. PAulO ROBERtO ViEiRA tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 134 LITERATURA Figura 1 – Quatro fólios dos diários, da esquerda para direita em sentido horário: (D44F0372 – 28 de outubro, 1997); (D13F054 – [? de janeiro], 1990); (D01F088 – 21 de julho, 1982); (D44F020 – [9 de outubro], 1997)3 São poetas, escritores, pintores, filósofos, atrizes, que constroem o panorama das leituras e apropriações literárias e plásticas de Max. Eles sobressaem nas imagens dos diários, ajudando a iluminar a história e a evolução da sua ativida- de poética e plástica, pois constituem opções conscientes e decisivas ao desen- volvimento do trabalho artístico dele. São as “estrelas-guias” pairando no uni- verso das suas representações, articuladas nas páginas dos cadernos de modo a indicar caminhos à originalidade plástica e poética. Nos diários, portanto, o artista mescla imagens verbais àquelas não verbais; por vezes, toma uma pela outra, funde-as, ao se expressar, num movimento de autoindagação, de buscas que configuram dispersão e atenção, conflito e fascínio. “Mente vazia, oficina do diabo”, diz o provérbio, muito pertinente, por analogia, quando nos detemos em um trecho de poema em prosa “Carta ao Age de Carva- lho”, presente na única antologia de seus poemas até o momento, O cadafalso, de 2001. No poema-carta, há uma reflexão em que o artista conjectura em favor da lida poética, algo que inviabiliza à sua existência a adequação do provérbio citado. Esta lida, pela vez dela, sugere-lhe outro rifão: mente vadia, oficina da poesia: Vivo pensando, pensar vagabundamente, poeticamente, penso nas palavras que se vão – o que quero agora? Desfazer-me das palavras, escrevendo-as, sem as sentir, a esmo, como não querendo nem tocá-las – no diário. Depois cato-as, escolho-as e nas palavras agrupadas posteriormente – dou-lhes a minha vida para que a minha vida seja delas. Do meu sangue morto, coagulado nessas palavras a esmo, intocadas, banho-as no meu sangue, no meu ser. Não quero 2 Neste artigo as chamadas das páginas fac-similadas dos diários de Max Martins seguem uma abreviatura de classificação, em que “D” e “F” significam “Diário” e “Fólio” e vêm acompanhados dos números que os determinam, seguidos de datação. 3 A figuras 1, 2 e 3, que integram este artigo, são imagens fac-similadas dos diários do poeta Max Martins, estudadas no período de meu doutorado na Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Bolsa Fapesp, entre 2010 e 2014. A pesquisa foi autoriza- da pela família do poeta, falecido em 2009. 135 LITERATURA OS DiáRiOS DO POEtA E ARtiStA PláStiCO MAx MARtiNS tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 tirar de mim as palavras, não quero nelas o meu conteúdo, a minha biografia, posteriormente. Quero uns tempos nelas, não imediato, imediatamente, imedia- tista, citá-las (MARTINS, 2001a, p. 165-166). Escavação profunda na própria subjetividade, tal reflexão exibe a maneira quase solene de se apropriar das palavras; as imagens como força externa mo- tivadora do gesto criador, em que a coexistência com os vocábulos leva a uma relação orgânica e simbiótica. O mecanismo da arte mostra ao artista convivên- cia, demorada e produtiva, com as palavras, feito o trabalho das epífitas na flo- resta. O poeta, no diário, nutre sua poesia sem parasitar a fonte, quer apenas um tempo nas palavras – é hóspede delas – como as orquídeas que vivem nas árvores. Ao mesmo tempo é visível a busca de certa distância das palavras que, into- cadas, são “banhadas” no sangue dele, no seu ser. A distância que o artista pretende visa a uma aproximação futura, equilibrada, decisiva e consciente das palavras (e das imagens delas decorrentes), pois planeja para depois, no diário, catá-las, escolhê-las, agrupá-las, e a elas dar a própria vida. O poeta quer sua ontologia nas palavras, quer cultivá-las e ser parte delas. Esse extrato do poema, portanto, revela dois fatores-chave no processo cria- tivo de Max. Primeiro, indica uma das principais origens da economia verbal percebida na poesia dele. As palavras, vistas de longe, cultivadas, pedem a ele o tempo de se mostrarem. Em média, o intervalo entre a publicação dos livros de Max gira em torno de dez anos. Além disso, são obras de reduzido número de páginas; seus poemas reunidos, ao final de 50 anos de ofício ininterrupto, não chegam a 350 páginas. A segunda revelação importante nesse trecho de poema em prosa é o sentido central dos diários na manutenção da poesia: “Desfazer-me das palavras escre- vendo-as”, diz e conclui o poeta, “no diário”. Ali as palavras estão a salvo, para- doxalmente distantes do diarista e perto o suficiente para serem conquistadas, apreendidas e incorporadas ao “eu” que fala na poesia. Os diários de Max não possuem ilustrações: são registros plasmados na es- treita união da palavra com a plástica, que viceja na feliz fusão do desenho com a colagem. As palavras vêm na tinta de canetas esferográficas e hidrográficas; os desenhos, na mesma tinta, em lápis de cor e lápis-cera, pastel, ligando-se às colagens, presentes em quase todas as páginas. Nessa dinâmica, Max construiu, nos diários, traduções associativas que ex- pressam preferências pessoais, mas também aprofundam lições estéticas que envolvem, em certa medida, traços culturais das imagens verbais e não verbais associadas. Assim, Max baliza as tendências do seu projeto e, ao mesmo tempo, vê o pró- prio rosto espelhado nas constelações que organiza, pois há, nas escolhas – além da expressão da liberdade –, a construção e a consolidação da própria identidade, tendo em conta que a identidade se constrói por meio do diálogo com o “Outro”. Dessa maneira, as apropriações, em qualquer que for a língua ou linguagem, ocorrem numa dinâmica da autorreflexão – do pensar o próprio ser – não apenas por meio dos sentidos extraídos nas leituras e no ver, mas também pelos significados nascentes nas articulações entre verbal e não verbal. O fato de interessar-se por tudo como novidade, porém, é o ponto de partida da criação artística de Max Martins. E isso se dá como um regresso momentâneo PAulO ROBERtO ViEiRA tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 136 LITERATURA ao estado de infância, em que as minúcias do objeto mais simples inebriam o espírito. Baudelaire (2006, p. 856), em O pintor da vida moderna, afirma: “Nada se parece tanto com o que chamamos inspiração quanto a alegria com que a criança absorve a forma e a cor”. Se, no adulto, a razão ocupa espaços conside- ráveis da vida, na criança, a sensibilidade rege quase toda a existência. um ar- tista que de tudo se ocupava com uma curiosidade infantil em estreita aliança com a imaginação, eis o traço biográfico chave por trás do encantamento que esses diários proporcionam. Preocupação central nos diários de Max – que abar- ca todas as demais preocupações –, a colagem foi, para ele, o ambiente perfeito à articulação criadora envolvendo literatura e imagem não verbal, confissão e segredo, palavra e objeto, mundo “real” e mundos imaginados. Figura 2 – Três fólios dos diários, da esquerda para direita em sentido horário: (D32F010 – [? de agosto], 1994); (D32F071 – [? de setembro], 1994); (D32F005 – [? de agosto], 1994) erotIsMo Por meio da carnalidade, as imagens nos versos de Max Martins reconfigu- ram a natureza – que assume um porte transcendental –, em que metáforas trazem à tona todos os entrelaçamentos da linguagem e do sexo que o poeta articula. Contudo, ao dissecar essa poética, Benedito Nunes (2009, p. 353) es- clarece que, nela, “vislumbra-se uma indecisão no regime das imagens e uma oscilação na consolidada conivência de Eros e Poiesis, que denunciam uma cri- se do pessimismo trágico”. Num gesto criativo, o poeta situa tal lirismo quando escreve, no livro H’Era, os versos: “Este rio enorme, paul de cobras/ onde afinal boiei e enverdeci/ amei/ 137 LITERATURA OS DiáRiOS DO POEtA E ARtiStA PláStiCO MAx MARtiNS tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 e apodreci” (MARtiNS, 1971, p. 20). Na poesia de Max, essa crise culmina numa espécie de degradação não apenas do corpo, mas também do ser, à força de um contraditório apodrecimento; de uma decomposição orgânica. todavia, a auto- degradação tende não à extinção, mas à reintegração tortuosa, autoaniquilante e difusa ao ambiente da natureza. O erotismo é sempre uma convocação à vida, pois simula compleição de eter- nidade nas ações que, contraditoriamente, entram em declínio e se mostram fugazes após o ápice extático. No caderno, o diarista quer cristalizar a ideia da carne e da sedução como beleza e motivo perenes da poesia e da existência. As- sim, as articulações eróticas nos diários de Max Martins servem de simulacros à sobrevivência do corpo diante da incontornável consumação desse mesmo corpo. Nessa poesia, a ação é concebida em termos corporais e vegetais, pelos quais se aprecia a sexualização da natureza e a naturalização do erotismo. É uma poesia cíclica, muito ligada à fertilidade, na representação de Eros e tam- bém de Gaia, posto que uma poética de desejo e de terra. Nessa conjugação entre o mundo vegetal e o erotismo da poesia, os diários de Max tornaram-se o ambiente da comunhão entre a esfera carnal e a esfera espi- ritual, que tende ao aniquilamento. Nesses cadernos, a poesia serve de manan- cial do pensamento, e o mundo ali representado frequentemente traz as marcas de um lirismo desolador. O diarista, por meio do manejo de representações femininas e imagens ver- bais, alude ao prazer ligando-o ao ato escritural e plástico. Assim, no plano do diário o poeta simula um mundo erotizado, em que o eu lírico da poesia – como as mulheres representadas – também se “expõe”, mas procurando, frequente- mente, revelar os anseios do eu do diarista. todavia, isso configura a busca do entendimento do prazer e da função das obsessões. O diário passa, em certa medida, a representar o lugar de experimentação de formas líricas e eróticas e de reflexões íntimas que mesclam passagens da vida e pensamento poético. Sabe-se que é função da arte poética simular o improvável. Na ilustração valo- rizada por meio de imagens, a poesia, por vezes, oferece aquilo que nos é vedado ter. Arte de revelar ocultando e de ocultar revelando, a poesia tem por mecanismo fazer-nos almejar algo para, num corte, nos abandonar na ausência do apenas pressentido. todavia, “o papel é um espelho” (lEJEuNE, 2008, p. 236). Essa me- táfora de lejeune, referindo-se aos diários e seus redatores, ajuda a destacar os cadernos como espaço da introspecção, análise e conhecimento do eu. Nessa di- nâmica, os jogos representados por meio da referência ao erotismo nos diários de Max são ainda espelhos paradoxalmente turvos da existência porque, como a poesia, simulam o alcance do improvável e lançam o diarista – sob disfarce – ao centro das obsessões e dos desejos, talvez, inatingíveis. Nos diários, a arte erótica veicula – sob a égide fálica ligada ao corpo feminino – o trabalho reflexivo do diarista com a matéria da poesia. Com efeito, Eros está no centro das tramas plásticas e da linguagem, enquanto o poeta diarista simu- la ambientes de encantamento que no fundo exprimem desencantos líricos. A relação de Max com essas palavras e imagens nos diários é tão contemplativa quanto ativa e as articulações resultantes são atos plásticos que, por vezes, constituem um conflito de atitudes. Assim, o eu dos diários se faz personagem nesses arranjos que fundem testemunhos, confissões, imagens, palavras, o que alivia, nessas projeções e transfigurações, a dor do sujeito real que tenta se es- gueirar nas páginas. PAulO ROBERtO ViEiRA tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 138 LITERATURA Figura 3 – Fólios dos diários (D43F007 – 2 de agosto, 1997) natureza, a cabana Sabe-se que Max Martins começou a aventura de escrever diários em 1982. Entretanto, como vimos, erotismo e natureza já coexistiam e se combinavam na poesia dele desde o início, em meados de 1950. Mas qual a essência dessa na- tureza que o diarista relaciona ao erotismo nos versos e nos diários? Na leitura da poesia publicada e dos cadernos, vê-se ainda que a tônica da natureza incor- porada se liga intimamente ao gosto pelos haicais e ao estudo do taoísmo e do zen-budismo, realizado pelo poeta desde a juventude, mas também se vincula ao seu próprio ambiente natural – a floresta amazônica – nos diários e na poesia representada pela praia de Marahu. Assim, Marahu, distante cerca de 70 quilômetros de Belém, no Pará, tornou- -se o principal cenário do entrosamento entre logos e Eros na poesia de Max Martins. Os reflexos das estadias do poeta na praia não demoraram a se tradu- zir em versos. Em 1983, é publicado Caminho de Marahu, que traz os primeiros poemas de beira-rio, e, em 1986, o livro-pôster 60/35 – 60 anos de vida e 35 de poesia – que, em admirável arranjo, associa poemas a fotografias de Max na praia4. Mas o vigor desse ambiente se fez manifesto ainda nos livros ulteriores, Para ter onde ir, em 1992, Marahu poemas – seleção de inéditos que inicia a pri- meira reunião dos poemas de Max, Não para consolar, nesse mesmo ano – e, por fim, a parte Colmando a lacuna, abrindo Poemas reunidos, em 2001. Passei uma época muito ligado ao zen-budismo, ao taoísmo. As melhores leitu- ras que tive foi ao ler as anedotas, os paradoxos zen-budistas. Aprendi que o 4 O projeto gráfico do livro-pôster 60/35 é do poeta e designer Age de Carvalho e as fotografias de Octávio Cardoso. 139 LITERATURA OS DiáRiOS DO POEtA E ARtiStA PláStiCO MAx MARtiNS tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 melhor que temos a fazer é fazer o que devemos fazer. Não ir para o lado esquer- do, não ir para o lado direito, mas caminhar passo-a-passo para frente (MAR- TINS, 1999). Devo, neste ponto, recapitular elementos desses caminhos filosóficos de Max Martins, para melhor compreensão deles. Nascido no Oriente, o budismo busca difundir os ensinamentos de Siddhartha Gautama, o Buda, que viveu entre os séculos Vi e iV a.C. Por sua vez, Zen é uma prática religiosa que consiste na meditação contemplativa de autoinstrução e autoconhecimento, por meio da observação da própria mente. Meditar é seguir a respiração, abrir-se ao vazio, deixar-se longe de aflições e ansiedades, acalmar-se, numa tentativa de se eva- dir dos conflitos ao encerrar a ação do pensamento. Outros ensinamentos de tradição chinesa, que abarcam a filosofia, a religião e a poesia, estão no taoísmo. trata-se, sobretudo, de um modo de ver a vida como caminho que se abre à natureza. Seus ensinamentos foram condensados em Tao-Té-Ching – o livro do caminho perfeito (lAO-tSÉ, 1973), cuja autoria é atribuída a lao-tsé, personagem lendário, que teria vivido entre 570-490 a.C. A obra compõe-se de máximas e aforismos que buscam interpretar o mundo e os homens com o propósito de uni-los e envolvê-los numa atmosfera harmônica e de profunda compreensão. tao é o caminho perfeito. Para o taoísmo, essa palavra é intraduzível. Expres- são do constante movimento do universo. É algo intangível, inexplicável. Para entendê-lo, é preciso colocar-se em sintonia com ele, senti-lo. A melhor imagem que pode talvez ilustrar o caminho perfeito é a da linha que oferece a menor resistência entre dois pontos. Com efeito, tao é o movimento dos astros celestes, o pipilar dos pássaros, o correr do rio na terra, o percurso que as gotas de chuva traçam após tocarem a copa das árvores, deslizando pelas folhas, pecíolos, galhos, aproveitando as ra- nhuras dos fustes para alcançar a “receptiva terra”5 (MARtiNS, 1990, p. 11), depois de percorrer um caminho que reflete com sabedoria o menor esforço. Além de se interessar pelos ensinamentos orientais desde a juventude, Max também leu Auden (tHOREAu, 2010), do poeta anarquista e naturalista norte- -americano Henry David thoreau (1817-1862). Ao propor um retorno à vida simples, essa obra autobiográfica contém tanto uma declaração de autoinde- pendência quanto uma experiência social, que configura uma viagem de desco- bertas espirituais. Em 1845, thoreau retirou-se para a floresta, inspirado na filosofia de Confúcio – contemporâneo de lao-tsé. Ainda no que concerne a Auden, é preciso dizer que a atitude de thoreau perante o mundo faz lembrar, em certa medida, a de outro poeta, igualmente anarquista e norte-americano, que conviveu com Max e seu grupo em Belém no início dos anos 1950: Robert Stock, o Homem da Matinha, como era conhecido, porque morava em uma choupana de chão batido, no antigo bairro assim deno- minado. Essa convivência intelectual, que durou cerca de três anos, marcou profundamente a poesia de Max. Assim, thoreau e Stock, ambos “from USA”, pela atitude anticonsumista e des- prendimento material perante o mundo, princípios fundadores da “beat genera- tion” – gérmen do movimento “hippie” –, coadunam com o desapego em favor do 5 Verso do poema “Ascensão”. PAulO ROBERtO ViEiRA tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 140 LITERATURA espírito professado nos ensinamentos de Buda, lao-tsé e Confúcio. insira-se ain- da, na poção da alquímica experiência de Max Martins, o seu estudo do oráculo chinês, uma das faces do milenar I Ching, o livro das mutações (WilHElM, 1956). Essa relação evidencia-se, com maior rigor, no livro Para ter onde ir (1992), inteiramente escrito segundo as regras do jogo ritual, que consiste na formula- ção de perguntas ao oráculo. O poeta entregou os sentidos ao acaso, interessado nas revelações proporcionadas pelo i Ching com sua linguagem simbólica, não verbalizada, que se relaciona à manifestação do inconsciente. Nos diários, como na poesia, o desejo surge como ânsia de complementação do eu. trata-se de um processo compensatório, em que o diarista se projeta na- quilo que almeja. Está constantemente sugando aquilo que deseja e não alcan- ça. Nessa dinâmica, os ensinamentos do tao parecem atuar no entendimento das virtudes do desapego, da inação, que leva ao equilíbrio e à autossuficiência. O diarista conjugava esses elementos nas articulações nos cadernos visando alcançar uma continuidade de consciência à vida cotidiana. aMIzade nos dIárIos No tocante às relações de amizade, o diário de Max serve como espaço da alteridade, conjugada ao inelutável pensamento sobre a solidão e a velhice, bem como, e paradoxalmente, à reflexão sobre a conquista de uma espécie de segun- da juventude vivida e celebrada na velhice. isso porque a década de 1980 confi- gura para Max, adentrando os “sessenta anos-sonhos” (MARtiNS, 1992, p. 19)6, o momento da plena maturidade pessoal associada à juventude dos novos ami- gos que o rodeiam e admiram. A amizade não possui uma denotação objetiva, é algo “transcendente” que significa simplesmente o ser. Assim, no ensaio O amigo aventa o filósofo Giorgio Agamben (2009, p. 92): Os amigos não condividem algo, (um nascimento, um lugar, uma lei, um gosto) eles são com-divididos pela experiência da amizade. A amizade é a condivisão que precede toda divisão, porque aquilo que há para repartir é o próprio fato de existir, a própria vida. Assim, configura-se uma espécie de partilha sem objetos. Portanto, nos diá- rios, a experiência do prazer, da alegria e da felicidade proporcionadas no con- vívio daqueles amigos, por vezes, estava justamente em ser com o outro. [...] Marcinha carinhosa, terna, dadivosa. O trio feliz: / eu, ela, Age. Identidade, afetividade. Doces em nossas sensibi- / lidades. Os três quase um só. União. A palavra para os / três hoje no café foi: HARMONIA. Comunhão de carências. / Alegrias íntimas. Bebemos, comemos. Os três lírica- / mente bêbados. Os cora- ções livres, libertos da / alienação do dia-a-dia e plenos de uma comunhão / fraterna de nossos eus. No café a / nossa solidão, a querida solidão a três, um só egoísmo / - os três em um, desligados de todo o resto do pessoal / ali. Cada um de nós voltado unicamente / para nossa harmonia. Mesmo quando faláva- mos / dos outros, de outras pessoas, ou de fatos do “outro / mundo”. Só nos interessava o som de nossas vozes, um / para o outro. Entre nós não havia a mínima / distância, nenhuma ponte. / A distância, as individualidades tinha / 6 Verso do poema “O caldeirão”. 141 LITERATURA OS DiáRiOS DO POEtA E ARtiStA PláStiCO MAx MARtiNS tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 sido absorvidas, naturalmente. Algumas horas / raras de nossas vidas. Bonito. / Da para acreditar na vida. Que valeu a / pena termos e estarmos vivos. / Lépidos e levemente bêbados na madrugada / cambaleávamos em flor pela avenida. / estávamos abençoados pela terna / compreensão da noite, da natu- reza inocente / e feliz (D09F098 – 23 de dezembro de 1988). Para Max Martins, as amizades são dignas de memórias e o diário é para onde elas confluem. No Diálogo sobre a amizade, de Cícero (1930, p. 15), em que o filósofo discute a fundo as relações amicais no seu tempo, o narrador, lélio, diz do amigo Cipião (o Africano), que perdera para a morte: “a lembrança da nossa amizade é para mim tão grata, que tenho por felicidade o viver por haver vivido com Cipião”. Max, nesse trecho de diário, refletindo o encontro daquela noite no café, ex- pressa um sentimento que, de certa maneira, corresponde ao de lélio, mas, no caso do poeta, a mesma plena compreensão dos sentidos da amizade aparece enquanto ele ainda está junto dos seus – “Dá para acreditar na vida. Que valeu a / pena termos e estarmos vivos. / lépidos e levemente bêbados na madrugada / cambaleávamos em flor pela avenida”. Nos diários de Max Martins, para além dos processos de criação poética e das articulações plásticas que se entrosam e ressignificam o cotidiano nas páginas, o diarista coloca as amizades sobre todas as conivências da vida, porque sabe que nada é tão conforme à natureza, nem tão a propósito para os casos favorá- veis ou adversos da existência quanto as relações amicais. Norberto Bobbio (1997) reflete acerca do significado da vida ao observá-la da senescência, aos 87 anos, em O tempo da memória: de Senectute e outros escritos autobiográficos. Contemplando o próprio passado, Bobbio (1997, p. 18) lembra que, psicologicamente, sempre se considerou um pouco velho, mesmo quando jovem, e vice-versa: “Fui velho quando era jovem e quando velho ainda me con- siderava jovem até há poucos anos”. O filósofo italiano reitera que exercem importância determinante sobre esses estados de ânimo as circunstâncias históricas, aquilo que acontece à nossa vol- ta, tanto na vida privada como na vida pública. Deve-se dizer que o começo da velhice para Max Martins trouxe, além do apuro nas memórias de fatos relevan- tes – contraditoriamente cada vez mais longe, no passado – um inesperado acontecimento: novos e decisivos amigos cheios de mocidade. Assim falava Zaratustra: “Eu e Mim estão sempre em conversação demasiado veemente. Como poderia suportar isso se não houvesse um amigo?” (NiEtZS- CHE, 2007, p. 83). Porque nos traz o lastro e a carga da maior parte da existência já transcorrida, na velhice pode-se aspirar desconhecidos ares em novos amigos que – para além dos entes já consagradas no tempo –, jovens, transpiram frescor, avidez, confiança e curiosidade naquilo que ainda desconhecem da vida. todavia, não se trata simplesmente de “aquele” completar “neste” alguma lacuna, ou de um tomar para si parte da carga que o outro acumulou nos anos e décadas. Nietzsche (2007) afirma que o amigo é sempre o terceiro, quer dizer, aquele que significa a válvula impedindo os outros de se abismarem nas profun- didades. Esse terceiro tem vida própria, está fora dos amigos dos quais provém. Assim, a amizade pode ser entendida como algo externo que os amigos devem alimentar e manter, qual seja, a própria relação. A amizade, portanto, não per- tence nem a um nem a outro, mas respira entre eles. PAulO ROBERtO ViEiRA tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 142 LITERATURA Na senilidade pode surgir a melancolia subentendida como consciência do não realizado e do não mais realizável. Essa melancolia é suavizada nos afetos que o tempo não consumiu (BOBBiO, 1997). Se a velhice dura pouco, é justa- mente por isso que nasce um sentimento de urgência. Associa-se o medo de a estrada estar perto do fim à esperança de prolongá-la, de ir além, de alcançar outras paragens. “O tempo acumulando-se sobre os ombros pesa”, mas, incan- sável, o poeta quer seguir adiante: Tanta coisa para fazer /O TEMPO / acumulan- / do-se sobre / os meus om- / bros PESA, / pesa prá / caralho. / tantos livros / novos para / ler. / O universo / é mais / maior do / que eu / pensava. / Ir ali, / acolá, / fazer, / providenciar tais e tais coisas, amar, / não-amar. E não esquecer nada. / Tudo tem de estar na ponta dos / dedos, na ponta da língua. / Meu Deus! São tantas as coisas / a pensar, pensar, dizer, silenciar, anotar para lembrar. / Este trem veloz, velocíssimo / que me leva rápido, rápido / para... para NUNCA MAIS... / fatos, coisas, imagens / afagos, beijos, poemas, / encontros ACABANDO / de repente. Age já se / foi há uma semana, Aonde vamos parar? / Preciso adiar-me, / desfiar mais as estações / viver um pouco / mais devagar / A cabana passou? Está parali- / zada. Um novo livro de / poemas também tem pressa. / É urgente escrever – Rápido / para o Jim, Rose Estela, / Margaret, Márcia, enviar meus livros para Ute Hermann / beijar Rose Risueño, ir à Estrela (D41F006 e F007 – 29 de agosto de 1996). Nessa última passagem do caderno, Max Martins ainda se indaga e se com- preende, mas já não se disfarça. Agarra-se ao diário e às representações da al- teridade – que nele cultivou por cerca de 20 anos – e procura extrair daí a força, a coragem e o ânimo para continuar a jornada da existência. O poeta se pergun- ta ainda, “A cabana passou?”, e logo responde, “Está paralisada”. Benedito Nu- nes (2012, p. 319), amigo fundamental e melhor intérprete do poeta com quem compartilhou a juventude e a velhice, diz da poesia de Max algo que se pode aplicar também aos seus diários: “as vivências passadas, as lembranças parti- culares, transformam-se em episódios de uma só anamnese confundida com o ato de escrever”. Assim, enquanto o mestre aprendiz confessa no diário as saudades de Ma- rahu, da cabana – que representa a natureza e a evasão; o escape do tempo opressor –, transmite ainda uma autossondagem existencial que revela a trans- corrência e a proximidade do fim de uma vida que experimentou plenitude e verdade, uma existência paradoxalmente deslocada e, com todas as forças, agarrada ao “mundo real”. the notebooks of the poet and artIst Max MartIns Abstract: Max Martins, poet and artist from Belem do Para, Brazil, was born in 1926 and died in 2009. He wrote/illustrated 48 journals between 1982 and 1999, notebooks filled with collages, a source for his poetic and pictorial creations. using the actual notebooks and some digital facsimiles, i sought to classify and organize the material. three central themes emerged: the power of Nature, Friendship, and Eroticism. this article shows how Max Martins transformed his life into art from the pictures and the poetry in the notebooks. Keywords: Max Martins. Notebooks. Poetry. 143 LITERATURA OS DiáRiOS DO POEtA E ARtiStA PláStiCO MAx MARtiNS tODAS AS lEtRAS, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 131-143, set./dez. 2016 http://dx.doi.org/10.5935/1980-6914/letras.v18n3p131-143 referêncIas AGAMBEN, G. O que é contemporâneo e outros ensaios. tradução Vinícius Nicastro Honesko. Santa Catarina: Argos, 2009. BAuDElAiRE, C. Poesia e prosa. tradução ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. BOBBiO, N. O tempo da memória: de Senectute e outros escritos autobiográfi- cos. tradução Daniela Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997. CÍCERO, M. t. Diálogo sobre a amizade. tradução José Perez. São Paulo: Cul- tura Moderna, 1930. lAO-tSÉ. Tao-Té-Ching – o livro do caminho perfeito. tradução Murilo Nunes de Azevedo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. lEJEuNE, P. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. tradução Jovita M. G. Noronha. Belo Horizonte: Editora uFMG, 2008. MARtiNS, M. H’Era. Rio de janeiro: Saga, 1971. 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